Nilo Peçanha

A história...



Nilo Procópio Peçanha nasceu em 1867, na cidade de Campos dos Goytacazes, no estado do Rio de Janeiro. Ao contrário dos políticos convencionais, sua origem não remonta à elite, mas sim à classe trabalhadora. Filho de um padeiro, Sebastião de Souza Peçanha, e de uma mãe negra, Joaquina Anália de Sá Freire Peçanha, portanto mestiço. Durante a juventude, trabalhou com o pai e os irmãos, e posteriormente formou-se pela Faculdade de Direito do Recife. Abolicionista e republicano, aos 24 anos, foi um dos Deputados Constituintes que assinaram a primeira Constituição do período republicano em 1891.

Sua ascendência de classe e raça o expôs ao preconceito em sua trajetória social. Isso foi expresso, especialmente quando Peçanha alcançou destaque, por meio de charges e manifestações críticas que ridicularizavam suas características físicas, como o tipo de cabelo e a espessura dos lábios, além de sua origem social. Ingressou na maçonaria, possivelmente como estratégia para enfrentar as barreiras impostas pelo preconceito social e racial da elite.

Como político, Peçanha opôs-se ao conservadorismo agrário e ao liberalismo paulista, vendo no republicanismo uma oportunidade de elevar as classes trabalhadoras a um patamar de modernidade, rompendo com a servidão. Desde sua juventude, reconhecia a importância da educação profissional e propôs, durante seu mandato como Deputado Federal, um projeto de lei para auxílio financeiro ao Liceu de Artes e Ofícios da capital federal, que havia sido afetado por um incêndio.

Naquela época, a sociedade estava impregnada por teorias sociológicas racistas, que buscavam legitimar a segregação social da população negra com base em argumentos eugenistas. O racismo diário, respaldado por teorias de "racismo científico", levava muitos a tentarem o embranquecimento social como meio de ascensão. Sustentar e até glorificar os símbolos da modernidade europeia permitia maior aceitação social pela elite. Essa mesma elite almejava o embranquecimento da população brasileira por meio da imigração europeia. O diploma de bacharel, a dissimulação das origens africanas, a aparência mais clara e a adoção da cultura branca eram considerados requisitos necessários para a ascensão e manutenção do status social.

Assim, apesar de ser alvo de zombarias preconceituosas, Nilo Peçanha conquistou a ascensão social, sendo eleito três vezes Deputado Federal, Senador, Vice-Presidente e, finalmente, Presidente da República, sucedendo Afonso Pena, falecido em 1909, antes do término do mandato, que se encerraria em 1910. Nilo Peçanha também foi Presidente da Província do Rio de Janeiro entre 1903 e 1906 e novamente entre 1914 e 1917, sendo reconhecido por sua competência na administração.

Republicano e maçom, Nilo acreditava que o Estado deveria oferecer educação ao povo trabalhador, não apenas para libertá-lo da servidão e da miséria, mas também para evitar revoltas que pudessem desestabilizar a república. Assim que assumiu o governo do Estado, iniciou uma reforma no sistema educacional para equilibrar as finanças e reduzir a influência clientelista na política. Demitiu diversos professores sem formação, que lecionavam por indicação política, e instituiu o concurso público como método de contratação, eliminando um instrumento utilizado para troca de favores e manutenção de poder pelos políticos locais. Demonstrou grande preocupação com o ensino profissional, chegando a implantar duas escolas de ensino profissional em seu primeiro governo no Estado do Rio de Janeiro.